ZÉLITO

ZÉLITO ENSINANDO SEU NETO JOÃO PEDRO A ARTE DAS BAQUETAS...

ZÉLITO

Quando eu era bem jovem, o VHS da ópera rock The Wall, dos ingleses do Pink Floyd, mudou definitivamente minha maneira de encarar a música e a arte em geral. Na época, eu ouvia basicamente bandas punks de sonoridade simples e agressiva com letras de protesto e, ver pela primeira vez uma história musical de caráter agressivo/contestador com melodias radicalmente calmas e belas, foi um divisor de águas.

No auge da minha adolescência, saquei apenas que o filme contava a história de um garoto inglês que perdeu seu pai na Segunda Guerra Mundial. A compreensão geral do filme só rolou bem mais tarde.  

Bons anos se passaram e correram boatos, no meio rockeiro de Bragança, que o Zélito, lendário baterista da banda Opus Infinitum, tinha dado a si mesmo uma bateria Pearl preta gigante de aniversário de 50 anos e que o grupo (que surgiu 1969 e encerrou suas atividades em 1974 quando João Helena – fundador da banda – foi pra Europa) estava prestes a voltar. E voltou. Na época (2002), fez shows em tudo quanto era espaço que tinha na cidade: Clube Literário, Busca Vida, Taquaral, Iron Bird etc. Neste período, me aproximei muito do José. No meio de uma série de lançamentos em DVD, acabei comprando o Pink Floyd - The Wall, com legendas em espanhol, e fui assistir na casa do Zé ao lado da minha esposa, Jerusa, e da esposa dele, Bete. Zelito nunca tinha visto o filme e encarou cada minuto como se fosse sua vida passando naquela televisão. Até que tocou Confortably Numb e ele chorou. Nesta hora, Pink, o protagonista do filme, está desacordado em uma cadeira e um grupo de pessoas (médicos, enfermeiros e o empresário do músico), do lado de fora, tenta arrombar a porta que os dividia. Após o arrombamento, o médico começa a agir para reanimar o cantor enquanto as legendas em espanhol dizem coisas sobre a infância do músico, misturadas com as sensações que estaria tendo desacordado, sem conseguir se expressar no maior estilo Your lips move but I cant hear what youre sayin.

Pulando agora vários anos adiante, o Opus se preparava para reunir a formação original em setembro de 2009, depois de umas idas e vindas. No dia 2 de maio de 2009, no último dia da turnê do Leptospirose pelos países vizinhos Argentina e Uruguai, desci no andar de baixo do albergue onde estávamos hospedados dar uma conferida nos meus e-mails e eis que encontro uma mensagem do Luciano, sobrinho do Zé que dizia: Tá sabendo do Zé? Qualquer coisa me liga! Imaginei que algo sério havia acontecido. Entrei na comunidade do Orkut dedicada a esta lenda das baquetas e vi lá uma mensagem com os dizeres: Força Zé ... Estamos orando por sua recuperação, carinha ... Era nítido que ele não tinha falecido, mas também, não dava pra saber o que era. Continuei o dia, subi as escadas e fiquei deitado uns minutos até que o Martin, responsável pelo show daquele dia, fosse nos buscar. Enquanto eu descansava, a recepcionista escutava e cantava junto, umas músicas do Djavan, traduzidas para o espanhol, o que as deixava mil vezes mais horríveis do que elas já são...  Depois de uns 20 minutos ouvindo aquilo, a campainha tocou e era o Martin. Peguei minhas coisas e, na saída, começou a tocar Confortably Numb. Fiquei pensando no José durante todo o percurso. Chegamos ao local do show e fechamos a tour com chave de ouro. No dia seguinte, comprei pra revenda muitos discos dos anos 60 e 70, voltando pra casa ao anoitecer. De volta à Bragança, fui ao encontro do João Helena (fundador do Opus e membro da atual formação) para ter notícias do batera e elas não eram muito boas.

Lembro que, certa vez, saindo juntos à noite perguntei ao Zé sem mostrar o que era, o que ele achava de tal som, botando em seguida o K7 pra rodar no carro e, segundos depois de ouvir o rock, ele disse: “Esse som é chato!” Então, insisti: como assim? E ele disse: “Isso aí é Novos Baianos. Quando agente ouvia rock no começo dos anos 70, no Brasil, éramos tirados de americanos. Até que esses caras fizeram isso, e todo mundo começou a dançar. Minha galera não curte isso aí de raiva”. Outra sensacional dele foi quando disse: “Não sei porque essas revistas de bateria ficam escrevendo as partituras do Keith Moon (The Who) e do Jhon Bonham (Led Zepellin) se nem eles sabiam o que estavam fazendo”  Para sintetizar: ESSE É JOSÉ, um cara direto, alegre e que tocava Confortably Numb como ninguém! No domingo, 10 de maio de 2009, recebi o telefonema do falecimento da grande lenda local das baquetas, deixado muitas lembranças lindas na mente de todos que os conheceram! 
                                      QUIQUE BROWN


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UM DOS ULTIMOS SHOWS DO ZÉ COM O OPUS - JANEIRO DE 2009.


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UM BATERISTA

- Sabe aquele ditado: “vivendo e aprendendo”? Pois aprendi mais um pouco sobre o significado da palavra tristeza. Meu pedaço de mundo está mais triste com a falta do Zélito. O cara era a personificação da alegria e do alto astral.

Não o conheci profundamente como muitos, já que fazem apenas 5 anos que ando por estes lados, mas foram tão poucas as vezes que eu o vi sem sua habitual efusividade, que mal me lembro dessas ocasiões. Ele dava logo a volta por cima e fazia piadas dos maus momentos. Sua presença enchia e iluminava os ambientes.

Eu nunca gostei muito do som de batuques, baterias e afins... costumavam atrapalhar meus batimentos cardíacos, porém quando fui ao show da Banda Opus Infinitum em 2005, não senti qualquer desconforto e, ao contrário, adorei o som que aquele baterista tirava de seu instrumento. Meses depois tive a oportunidade de dizer isso a ele, que demonstrou humilde gratidão aos meus elogios. Mais tarde pude perceber que essa humildade fazia parte de seu caráter. Eu, que me considero “a do gargarejo”, recebia a mesma pergunta dele a todos os shows que assistia: - estava bom?
O Zé era a bateria, era a alma dela. Assistir a banda tocando sem os trejeitos e malabarismos dele com a baqueta, vai ser muito triste. Daqui em diante cada apresentação será uma homenagem a ele.

Zélito, você não morreu... virou lenda!

Valéria 12/05/2009



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DO ZÉLITO NÃO TEMOS QUASE NADA GRAVADO. ACHO QUE A UNICA COISA QUE FICOU GUARDADO COMIGO FOI O VÍDEO A SEGUIR: EPITAPH... QUE ELE ADORAVA.


http://www.youtube.com/watch?v=e3tK_YREFj0

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UMA HISTÓRIA DE MAIS DE 40 ANOS...




Eu me lembro do Zélito de incontáveis maneiras, visto que passamos grande parte de nossas vidas grudados um no outro. Só para ilustrar, uma pequena historia. Nos idos de 69 estavamos montando um show beneficente aqui em Bragança e faziamos os ensaios no porão da casa do João Fernando Guimarães. Lá iamos todas as tardes para preparar o repertório do show...Era um tal de misturar generos musicais, uns querendo tocar bossa nova, outros (eu e o Zé) querendo tocar rock'n'roll. Assim foi indo e acabamos improvisando uma formação com o Zélito (ainda aprendendo) na bateria, o Beto NIni nos Teclados, eu de guitarra, o Betinho na guitarra solo, o João Fernando Guimarães no Baixo e o Cordeiro no Vocal. Ensaiamos por alguns dias e no dia do show apresentamos as musicas "Mustang Cor de Sangue" do Marcos e Paulo Sergio Valle e uma nova versão do "Banho de Lua" da Celly Campello. Fizemos um puta sucesso...fomos ovacionados pelo publico presente que na oportunidade lotou o antigo Cine Centenário (onde hoje é a Loja Mariana). Acredito que nessa época já se desenhava a criação do Opus Infinitum, uma vez que, dos participes desse show, só o Beto Nini nunca fez parte do Opus...os outros todos tiveram sua passagem pela Banda. O duro é lembrar disso tudo e sentir um nó apertando o peito, tamanha a saudade. Zé, esteja você onde estiver, saiba que nós aqui continuamos a te amar....e muito. Talvez até mais do que pudemos demonstrar a você em vida.
JOÃO FERNANDO HELENA
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Na epoca em 1972 qdo fiz 18 anos meu avo ou meu pai(ATÉ HOJE NAO DESCOBRI)me deram um fuscão branco com tala larga e tdo que um bóy na epoca tinha direito.O carro foi comprado em são Paulo(placa de lá)A Barão de Juqueri era duas maos portanto subia e descia .Dei a volta no largo do Rosario e entrei na rua pois pretendia mostrar para galera meu possante na praça. Acontece que na descida vinha um jipe cortando um outro carro que estava mais devagar e quando entrei dei de frente com o Jipão .Pronto danou-se tudo.O Zé lito não sabia que o fuscaão era meu e logo foi defendendo o dono do jipe que era de Bragança pois ele viu a placa do fusca de são paulo.Quando ele descobriu ,ja era tarde demais. Eté hoje quando nos encontravamos ele falava, Gastaozinho tinha que ser aquela maldita placa de sao paulo do seu carro, se eu soubesse que era vc. não defendia o outro que eu nem conhecia. e ele nã se perdoava. Mais a gente caia na risada. Este foi um episodio que tive com esta grande pessoa. um abraço aonde quer que esteja. 



Gastão Bueno


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Aconteceu no dia 06 de setembro de 1997. Lá estava um cara "bigodudo" chorando copiosamente a beira da urna do meu saudoso e querido pai, Vasco Antonio Ferreira, o "Vasquinho da Estância". Perguntei a mim mesmo : "Quem é esse cara ?" Perguntei aos outros também e me responderam : "Aquele é o "Zelito", era amigo do seu pai". O Zé fez questão de carregar o caixão ao meu lado. Eu não o conhecia e nem ele a mim. Estranho isso, não é ? Naquele dia senti que ele era especial sem ao menos trocar-mos uma palavra. O enterro acabou e só vim a encontrar o Zelito um ou dois anos depois na Estância. Novamente, estava lá aquele "bigodudo", bebendo uma vodca. Me aproximei, nos reconhecemos, e até que enfim nos apresentamos. O Zé chorou novamente e consequentemente eu também . A partir desse dia ficamos amigos, todas as vezes que nos encontráva-mos o Zelito lembrava e dizia : "Eu sou aquele "bigodudo" que chorou a morte do seu pai, e você me tem como herança dele". Era sempre assim. Era muito bom.
Outra do Zé: "Bruninho, fui pra China e observei que a asa do "Jumbo" deflexionava, e fiquei apavorado, isso é normal ?" Respondi: "Zé, imagina se a asa fosse rígida, não deflexionasse. Numa turbulência, ela simplesmente se romperia da fuselagem, se partiria, entendeu ? Ele retrucou: "Putz, como sou burro, não tinha pensado nisso". Rimos muito. Sinto falta das perguntas dele sobre aviação, apesar que as vezes ele me "enchia o saco" de tantas perguntas. Querido Zelito, sei que você está aí no céu, junto com meu pai na felicidade eterna. Fiquem em paz ao lado do "Grande Arquiteto do Universo".



Bruno Vasco.



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Como não postar aqui minha gratidão, admiração, respeito eterno e a alegria de poder encher o peito para orgulhosamente dizer: "Sim, sou sobrinho e afilhado do Zelito!". A história que postarei aqui é um marco daquilo que viria a ser a minha eterna paixão na vida, inspirada, guiada e ensinada por este meu tio querido: A Música.

Esta história se dá nos idos de 1970 quando eu confortavelmente aguardava para vir a este mundo no ventre de minha mãe e, ao retornar de um ensaio do OPUS, o Zelito deixou cair no chão do corredor da casa da minha avó seu par de chimbau (pratos da bateria) e minha mãe relata que imediatamente eu comecei a chutar incessantemente sua barriga por um bom tempo.

Acho que ali eu anunciava ao mundo que trilharia os caminhos musicais do meu padrinho e assim o fiz e faço até hoje.

Outra bela passagem que sempre se repetia quando a gente se encontrava, e graças a Deus isso acontecia com frequencia, era que na maioria das vezes que a gente sentava para ouvir um Pink Floyd ou ver um vídeo de Rock ele segurava minha mão bem forte e dizia: "Carinha, passo aqui novamente a você o meu Rock, Minha Música, meu ritmo de batera!!!" Ai que saudade.

E hoje, com muito orgulho e imensa responsabilidade, assumo as baquetas que por tantos anos admirei como uma eterna criança a observar seu ídolo maior levando adiante seu grande sonho que sempre foi o Opus Infinitum.

Ah, e podem ter certeza de que não o faço sozinho, pois além dos grandes companheiros que ali estão comigo, a memória do eterno "Carinha" segue viva ali naquele espaço sagrado de tambores e pratos que desde o ventre da minha mãe ele me ensinou a amar.

A saudade dele está sempre presente, mas tem se transformado em força e imenso orgulho quando conto 1,2,3,4 para fazer o que ele tanto gostava.

Obrigado "Carinha" por esta alegria que me deste e que comigo segue a cada dia de minha vida e obrigado Deus por ter me dado tão maravilhoso tio, padrinho e mentor.

Parece até que estou ouvindo: "Carinha, olha o pedal!!! Dobra no pedal!!! Assim ó: cum cum cum cá! Cá cum cum cá!

Te amo tio Zelito!!!!

Edsel Lonza Jr